Para que Filosofia da Educação?
Talvez seja mais pertinente
perguntar: para que filosofia na educação? A resposta é simples: porque
educação é, afinal de contas, o próprio “tornar-se homem” de cada homem num
mundo em crise.
Não há como educar fora do mundo.
Nenhum educador, nenhuma instituição educacional pode colocar-se à margem do
mundo, encarapitando-se numa torre de marfim. A educação, de qualquer modo que
a entendamos, sofrerá necessariamente o impacto dos problemas da realidade em
que acontece, sob pena de não ser educação. Em função dos problemas existentes
na realidade é que surgem os problemas educacionais, tanto mais complexos
quanto mais incidem na educação todas as variáveis que determinam uma situação.
Deste modo, a “Filosofia na educação” transforma-se em “Filosofia da Educação” enquanto
reflexão rigorosa, radical e global ou de conjunto sobre os problemas
educacionais. De fato, os problemas educacionais envolvem sempre os problemas
da própria realidade. A Filosofia da Educação apenas não os considera em si
mesmos, mas enquanto imbricados no contexto educativo.
A este respeito afirma Kneller
(1972. p. 146): “se um professor ou líder
educacional não tiver uma filosofia da educação, dificilmente chegará a algum
lugar. Um educador superficial pode ser bom ou mau. Se for bom, é menos bom do
que poderia ser e, se for mau, será pior do que precisava ser”.
Que teoria de aprendizagem adotar?
Que métodos e técnicas utilizar? Já afirmavam Binet e Simon correr
“o risco de um cego empirismo quem
se conforma em aplicar um método pedagógico sem investigar a doutrina que lhe
serve de alma”. Não há métodos neutros. Não há técnicas neutras. No bojo de
qualquer teoria, de qualquer método, de qualquer técnica está implícita uma
visão de homem e de mundo, uma filosofia.
A
filosofia é, assim, norteadora de todo o processo educativo. O maior problema
educacional brasileiro sempre foi e ainda
é, a meu ver, o denunciado por Anísio Teixeira no título de uma de suas
obras principais: “Valores proclamados e valores reais na educação brasileira”.
Quer em nível de sistema, quer em nível de escola, proclamamos belíssimos princípios
filosófico-educacionais. Na prática, entretanto, caminhamos ao sabor das
ideologias e das novidades e – o que é pior – sem nos darmos conta da
incoerência existente entre nossas palavras e nossos atos.
O educando deve filosofar, ou seja,
deve refletir sistematicamente, buscando as raízes dos problemas - seus e de seu tempo - de modo a formar uma “visão de mundo” e
adquirir criticamente princípios e valores que lhe orientem a vida.
Só assim serão homens e não robôs. É preciso, pois, municiá-lo de
instrumentos racionais e afetivos para
que se habitue a ser crítico, a não se contentar com qualquer resposta, a
colocar sempre e em tudo uma pitada razoável de dúvida, a cavar fundo e não se
intimidar perante a tarefa ingrata de estar sempre questionando e se
questionando.